No Ponto

DOCES DA DONA MARIAZINHA

Quando se pensa em Freixo de Espada à Cinta, pensa-se na vila que fica muito longe já perto de Espanha, mas garantimos que compensa cada quilometro que fizerem para lá chegar.
A vila é calma e muito cuidada, e os habitantes passeiam-se nos seus afazeres ou abrigam-se do sol debaixo de um freixo entre a Torre do Relógio – o que resta de um castelo medieval – e a Igreja Matriz.
Deixamo-nos passear pela vila até à hora de nos encontrarmos com D. Mariazinha, que é quem mantém a tradição doceira deste local. Natural do Porto, mudou-se para estes lados quando se casou há 62 anos, e por aqui conheceu D. Maria Olímpia, detentora de um talento inegável não só para doces, mas também para tecer seda – não fosse Freixo de Espada à Cinta conhecido por Terra da Seda.
Foi ela que, depois de perceber a habilidade doceira de D. Mariazinha, passou-lhe as receitas para que continuasse a fabricar os doces de amêndoa. São eles o bolo fino de Ataíde, as queijadas de amêndoa, as amêndoas fritas, os arrepelados, os beijos de preta, as cerejas, as castanhas, os pêssegos e os CDS.
Dois destes doces foram alterados por D. Mariazinha. Os beijos de preta, que no tempo de D. Maria Olímpia eram feitos com leite, agora levam vinho do Porto para garantir a sua durabilidade. Quanto aos CDS, passaram a ter chila e canela. Este nome estranho para doce deve-se ao facto de começar por não ter nome e, depois do 25 de Abril, quando Freitas do Amaral visita o Porto, é-lhe entregue uma caixa destes doces que então ganham o nome do partido. D. Mariazinha já tentou mudar-lhe o nome – “não tem jeito nenhum um nome de um partido” – mas as gentes de Freixo acham graça e é assim que os continuam a chamar.
A preocupação de D. Mariazinha é que não se deixe de fazer estes doces com a qualidade e o saber de outros tempos. Tempos em que não havia tanta pressa e todos os ingredientes eram devidamente preparados, alguns com antecedência, para que os doces ficassem ao gosto da D. Maria Olímpia: perfeitos.
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When one thinks of Freixo de Espada à Cinta, it comes to mind a town far away, already close to Spain; however, we guarantee you that each mile to get there is worth traveling.
The town is quiet and well tendered, and its inhabitants either stroll around on their business or take refuge from the sun under an ash tree situated between the Torre do Relógio (Clock Tower), which is the remains of a medieval castle, and the Parish Church.
We walked around town until it was time to meet with Dona Mariazinha, who is the one maintaining local confectionary traditions. Born in Porto, she came to these parts when she got married 62 years ago, where she also met Dona Maria Olímpia, who had an astonishing talent for making sweets and weaving silk – for Freixo de Espada à Cinta is known as the Land of Silk.
Upon noticing the confectionary abilities of Dona Mariazinha, Dona Maria Olímpia gave her the recipes so that she could keep making these almond sweets, which are the “bolo fino de Ataíde”, the almond cheesecake, the fried almonds, the “arrepelados”, the “beijos de preta” (kisses of a black woman), the cherries, the chestnuts, the peaches, and the CDS.
Dona Mariazinha changed two of these sweets. The “beijos de preta”, which had milk in Dona Maria Olímpia’s time, are now made with port wine in order to ensure its durability. As to the CDS, they now have fig-leaf gourd and cinnamon. Its strange name CDS, for a sweet, is due to the fact that it started to not have a name and, after the carnation revolution, when Freitas do Amaral was visiting Porto, a box of those sweets were handed to him, and so they were named after the political party. Dona Mariazinha has tried to change its name — “a party name makes no sense” — but the people in Freixo like it, and so that is what they keep calling it.
The worry Dona Mariazinha has is that these sweets may stop being made, at least with the quality and know-how of other times; times when there wasn’t so much hurry and all the ingredients were duly prepared, some well in advance, so that the sweets were just like Dona Maria Olímpia would have them: perfect.

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