Em Sesimbra todos sabem contar uma história ou têm uma receita de Farinha Torrada, que faz deste doce uma especialidade do concelho.
Não se sabe ao certo quando se começou a fazer, mas senhoras de idade dizem lembrarem-se das avós que a faziam para os maridos levarem para o mar, e a verdade é que este doce provavelmente vem dos finais do séc. XIX.
No início era apenas uma mistura de farinha com açúcar que as gentes torravam no forno usando a réstia de calor de cozer o pão. Em dias de festa em Honra do Nosso Senhor Jesus das Chagas, 4 de Maio, ou quando vinha um agricultor do campo, por vezes a Farinha ficava mais rica e a ela se juntava um ou dois ovos, poucos, que eram tempos de escassez.
Mais tarde, quando os tempos começaram a melhorar apareceu o chocolate “Comer com pão”. Também este se juntou à farinha com a canela e limão enriquecendo o seu sabor.
Mas há ainda outras histórias curiosas, como o de misturarem aquilo a que chamavam “cerveja preta”, que era nada mais do que um bálsamo do Perú que se comprava nas farmácias e que servia para curar gripes e fraqueza. Daí dizer-se que a Farinha Torrada dava “sustança”, e ainda hoje se falar dela como a barra energética dos pescadores.
Quem nos conta todos estes pormenores é Maria Gomes, da Câmara Municipal de Sesimbra, que fez parte de uma equipa que pesquisou e juntou vários testemunhos sobre a Farinha Torrada.
Apesar de todas estas histórias, o que mais impressiona é a capacidade criativa deste povo de fazer muito com tão pouco, de ter evoluído o doce sem que este tenha perdido a sua essência e de o ter mantido vivo para que hoje consigamos deliciarmo-nos com um quadrado de Farinha Torrada. Obrigada.
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In Sesimbra, everybody knows the story, or has a recipe, of Farinha Torrada (Toasted Flour), which makes this sweet a specialty of the region.
Nobody knows really when it started to be made, but older ladies say they remember their grandmothers making it for their husbands to take to work in the sea, and the fact is that this sweet probably dates of late nineteenth century.
In the beginning it was simply a mixture of flour with sugar, and the folk toasted it in ovens still warm from making bread. In the festivity of Nosso Senhor Jesus das Chagas, on the 4th of May, or when a farmer would come over from the fields, sometimes the Farinha Torrada would become richer as it was added to it one or two eggs, not much, for those were times of scarceness.
Later, when things started to improve the chocolate “Comer com pão” came. It also was added to the flour with cinnamon and lemon, enriching its flavour.
But there are other curious stories, such as the one according to which folk would mix in what they called “dark beer”, which was actually a balm from Peru people bought at the pharmacy, used for colds and sickliness in general. That is why they say Farinha Torrada gives sustenance, and still today one will hear about it as the energy bar of fishermen. It is Maria Gomes, from the Municipality of Sesimbra, who tells us these details. She was part of a research team who investigated and compiled many testimonies about the Farinha Torrada.
Irrespective of these stories, the most amazing thing is the creative capacity of this people to make so much from so little, to evolve a sweet without altering its essence, and to keep it alive so that today we can relish in a small square of Farinha Torrada. Thank you.

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